A queda abrupta do preço da borracha

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Quando os negócios começam a perder rentabilidade, as dificuldades se multiplicam e a esperança se desfaz. O abandono, sucedâneo da quebradeira, na angústia de sua melancolia, alcançou a todos, sem poupar as economias que eram dependentes do grande capital, representado pela presença do Império Britânico. Foram atingidas pelo deslocamento do processo produtivo da borracha para fora da Amazônia, sem ter a quem recorrer, obrigando a criação de mecanismos de subsistência, adaptabilidade e criatividade aos novos – e adversos – tempos. Nesse clima era preciso reavaliar a relação entre a capital e interior, totalmente sabotada com o desaparecimento da regularidade das empresas aviadores com os seus navios , com os seus equipamentos de assistência, com suas formas de comunicação.

A Nação Brasileira não estava interessada na solução dos problemas amazônicos, pois a borracha não era produto vital para suas necessidades, ante a inexistência de indústrias voltadas para essa matéria-prima, e pelo fato de todos os produtos de borracha que utilizávamos serem importados. Além disso, o Brasil estava com uma dívida externa de 150 milhões de libras esterlinas.

Para o historiador Antonio Loureiro* essa indiferença federal apenas confirmou o divórcio histórico do Brasil com relação à Amazônia. Os interesses internacionais, portanto, abandonavam a Amazônia após um controle de quase quarenta anos, em que a região desenvolveu-se apartada do restante do País, que a desconhecia e por ela não se interessava, salvo na hora de recolher os impostos e as divisas geradas pela goma elástica.

Com a grande crise de que fala Antônio Loureiro, que se ensaia desde 1910, com a queda do preço da borracha, praticamente desapareceram novos investimentos estrangeiros na Amazônia. A Inglaterra optara, em definitivo, pela inversão de seus recursos nas bem-sucedidas plantações existentes em suas colônias, o que consistia em duro golpe para o nosso futuro econômico. Os motivos principais desta opção eram a falta quantitativa de mão-de-obra e a nossa condição de país independente, o que impediria ações diretas em favor dos interesses de seus nacionais, em caso de necessidade. Aliás, as aplicações no Oriente já vinham aumentando progressivamente desde 1908, ante os dividendos assombrosos distribuídos pelas empresas de borracha plantada, além da segurança e garantias oferecidas pelo Ministério da Índia. A Amazônia era descartada da possibilidade de ter seringais plantados pela falta de recursos próprios vindos do exterior ou do Sul do País, que não os tinha.

Fonte: Antônio J. S. LOUREIRO, A grande crise (1908-1916).
* Escritor, historiador e médico formado pela UniRio, Antonio José Souto Loureiro é membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Academia Amazonense de Letras (AAL). Entre os livros publicados estão: Síntese da História do Amazonas (1978); Amazônia 10000 Anos (1972); A Gazeta do Purus (1981); A Grande Crise (1986); O Amazonas na Época Imperial (1989); Tempos de Esperança (1994); Dados para uma História do Grande Oriente do Estado do Amazonas (1999); História da Medicina e das Doenças no Amazonas (2004); O Brasil Acreano (2004); O Toque do Shofar – Volume I.