As Grandes Secas e a Hevea

A partir de 1827, a borracha amazônica passou a aparecer na pauta de exportação regional, com um embarque de 30 toneladas. Com a descoberta do processo de vulcanização, em 1839, e o aumento do uso dessa matéria-prima, os registros subiram para 1445 toneladas no quadriênio 1840; no período de 1875-1879, figuravam com 30 360 toneladas; em 1901, iria alcançar 30 241 toneladas e no auge do boom, em 1912, atingiu 42 286 toneladas, índice jamais atingido ulteriormente, até decair para 6 224 toneladas, no auge da depressão, em 1932. No auge do preço, em 1910, a borracha gerou 25 254 371 milhões de libras esterlinas de exportação, equivalente a 40% do total das exportações brasileiras. Se esse valor fosse atualizado em 1992, corresponderia a 1 295 296 689 bilhão de libras esterlinas.

No ano mais negro da depressão em 1932, com uma receita de exportação de 217 012 libras, correspondente a 6224 toneladas, a borracha amazônica havia perdido, se comparados os anos de 1910 com 1932, cerca de 99% de seu valor bruto e 85% em peso. No decorrer desse longo período, de quase 80 anos, a Amazônia recebeu uma considerável massa humana de migrantes nordestinos, aqui genericamente conhecidos como cearenses. Procediam geralmente das zonas do agreste e do sertão do Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e outros estados nordestinos, sendo tangidos pela seca – imigração por fome -, ora simplesmente atraídos pelo apetite da seringa – imigração por cobiça, fortuna e aventura, ou simultaneamente por ambos.

Geograficamente nascia, assim, uma nova Amazônia, baseada na seca e na hevea, e na conjunção de duas linhas, a de maior flagelo e sofrimento – o sertão – e a de maior resistência e atração – a floresta. As secas deslocaram 19910 retirantes. Em 1892, as entradas registraram uma migração de 13.593 nordestinos. De 1900, passando pelo apogeu de 1910, até a depressão, estimamos que a Amazônia recebeu mais de 150 mil cearenses, totalizando assim 300 mil migrantes nordestinos no período de 1877 a 1920.

Fonte: Samuel Benchimol – Amazônia, formação social e cultural.