Cosme Ferreira e as questões amazônicas

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Na apresentação do livro de Cosme Ferreira; Amazônia em novas dimensões, ed. Conquista, Rio, 1961, escrita pelo historiador e ex-governador do Amazonas, Arthur Cesar Ferreira Reis, eclode uma denúncia de extrema atualidade e gravidade, que o livro de provoca e convoca à reflexão: “Não se criou ainda, no Brasil, uma consciência, fora do emotivismo ou do sensacionalismo de romance e de jornal, elaborada com serenidade e com realismo acerca da Amazônia. Temos preferido conhecê-la, quando não nos deixamos dominar pela frase macia, as sentenças euclidianas, pelas mãos dos homens de ciência do estrangeiro, que não se cansam de frequentá-la e de investigá-la com os propósitos de bem servir ao conhecimento humano, mas, também, aos interesses políticos de suas pátrias”.

No livro, Cosme revive e reacende a questão amazônica, seus desafios de conhecimento e aproveitamento racional, os equívocos de sua ocupação, os mitos criados pelo distanciamento e descomprometimento da União em relação ao homem da região. As novas dimensões remetem à antropologia amazônica, no sentido renascentista que se contrapõe ao obscurantismo do teocentrismo medieval: “O homem que Euclides da Cunha considerou um intruso, a perturbar com sua presença, a serena e majestática gestação de um capítulo inacabado do Gênesis, é aqui, na realidade, o visitante longamente esperado, que apenas completará a paisagem, violando-a para que possa frutificar em benefícios que, de há muito, deveriam estar sendo fruídos pela comunidade brasileira, para não dizer pelo próprio mundo, tão carecedor desse imenso campo de trabalho, acolhedor e pacífico”.

Ao longo de suas obras, Cosme reflete sobre os limites e promessas de suas empresas, a Companhia Nacional de Borracha, Companhia Brasileira de Plantações e a Companhia Brasileira de Guaraná, e defende a necessidade de inovação tecnológica, que ele incluía sob a letra de “bens de produção e de equipamentos que ainda não fabricamos.” Ainda estava viva em sua lembrança a colaboração da Amazônia “…quando fornecíamos ao país quase a metade de suas divisas através da exportação de um só produto – a borracha”. Em “Novos ângulos dos problemas amazônicos”, de 1954, publicado pela Associação Comercial, ele defende o manejo florestal, para atender a demanda mundial de 800 milhões de metros cúbicos de madeira. “Nossas florestas podem fornecê-los se submetidas a um aproveitamento racional e econômico”. Hoje a engenharia florestal recomenda manejo sustentável de extração de madeira para renovar e conservar a floresta. “Há um mercado sem limites para a juta, originária dos climas quentes e úmidos – e nossas várzeas que, que quase suprem as necessidades nacionais dessa fibra poderão produzi-la em volume imprevisível e a preços de competição… o mesmo se aplica ao arroz para atender a alimentação básica de mais de um bilhão de seres humanos”. A essa lista, Cosme acrescenta o guaraná, a castanha, a piscicultura e as oleaginosas, defendendo o beneficiamento local com agregação de valor decorrente da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico.