O pai de Petronio Pinheiro sempre apostou no trabalho como ferramenta de superação da adversidade. O patriarca perdera cedo à companheira Ana Angélica, e se movia pelos projetos e sonhos de juventude, que com ela acalentou quando veio para a região, fugido da penúria do sertão e determinado a alcançar as promessas da famosa árvore da fortuna. Um seringueiro que, de tão determinado, virou seringalista, ajudado por uma circunstância da antiga proprietária do seringal, Dona Conceição, que, na ausência de herdeiros, lhe confiou à guarda e posse da propriedade. No cotidiano de Conceição do Raimundo para Nilo Pinheiro, a quem fora entregue a gestão dos trabalhos, a rotina era comum a todas as demais frentes de extração do látex, nas diversas calhas dos rios, de acordo com a descrição de Samuel Benchimol. ‘Administrar o seringal era tarefa bastante difícil e complexa. Envolvia treinamento e assentamento de seringueiros, abertura e manutenção de estradas e varadouros, compra de burros e animais de cargas e selas para transporte, aquisição de tijelinhas, baldes, machadinhas, terçados, espingardas e balas para caça. Classificavam e qualificavam o produto para obter o máximo de borracha fina e o mínimo de cernambi, cumpria-lhes organizar e receber os navios que faziam o transporte fluvial de subida, com suprimentos de ranchos e mercadorias, e de baixada com gêneros; administrar o depósito e armazém, escriturar os livros de débito e crédito, expedir contas de vendas, ler o Chernnovitz, para curar as doenças dos fregueses, cuidar da família e dos filhos, quando estes moravam na sede do barracão; solucionar conflitos entre os seringueiros e companheiros, fazer festas, danças e forrós, promover casamentos e amigações para os seringueiros, expedir cartas com os pedidos para os aviadores de Manaus, remeter mesadas para as famílias, enfim um rol sem limites de obrigações e afazeres.’ Se o preço da borracha sofrera uma queda brutal com a débâcle do I Ciclo, o jeito era diversificar a produção, atender as demandas do mercado com outros produtos disponibilizados pela floresta. “Aqui é o meu lugar”, repetiria com muita frequência desde que os filhos começaram a estabilizar materialmente as próprias vidas na capital e insistiam em sua mudança para reunir novamente a família. Só deixou o seringal quando a saúde lhe faltou e foi obrigado pelos filhos a tratar-se em Manaus.