O Estado Novo e o desenvolvimento fabril

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 A quebra da Bolsa de Valores em Nova Iorque, em 1929, trouxera uma crise sem paralelo ao capitalismo. O mundo dos negócios ruiu. Como o principal produto da pauta de exportações brasileiras nesta ocasião era o café, um “produto de sobremesa”, o baque nacional foi significativo, pois em situações de crise, as sociedades humanas economizam com o supérfluo, a começar pelo café.

O Estado Novo estabelecia-se na mesma época em que, na Europa, o fascismo e a guerra entre as burguesias monopolistas das potencias capitalistas patenteavam a crise das democracias liberais e ameaçavam destruir a primeira experiência socialista iniciada na União Soviética.

Na expectativa de mudanças, o cotidiano descreve massas de desempregados vagando pelas cidades e pelos campos do Brasil de então, acreditando que o novo governo resolveria todos os seus problemas. Era um país mergulhado em contradições num mundo conflagrado por agitação social, greve, ocupações de fábricas, ameaça de “golpes vermelhos” na velha Europa, mudanças de regimes constitucionais e intensa produção bélica.

A classe operária estava nas ruas. O desenvolvimento fabril; o exíguo grupo capitalista organizado em oligarquias patronais, que se havia abalançado à criação de fábricas com uma base salarial baixíssima, salário de escravo, exploração brutal do braço humilde que se encontrava em abundância no país, gente de pé descalço e alimentação parca: um punhado de farinha de mandioca, feijão, arroz, carne-seca, artigos alimentares baratos e abundantes nos mercados, café adoçado com mascavo e um pouco de farinha, pois o pão era artigo de luxo, bem como o leite, a carne, os condimentos, os legumes (estes últimos desconhecidos na casa do trabalhador). E quanto à moradia, estava confinada a barracões em fundo de quintal, em porões insalubres, em casebres geminados (cortiços) próximos às fábricas e pelos quais pagavam de aluguel mensal 15, 20, 30 mil-réis. Esse proletariado fabril, em grande parte feminino e constituído de mocinhas, era o preferido para a indústria têxtil, trabalhando das 6 da manhã as 7 e 8 horas da noite, com uma hora intermediária para o almoço.

A anemia e a tuberculose faziam abundante ceifa anual. Na indústria metalúrgica ou mecânica, o número de menores também era predominante, com exceção de um reduzidíssimo número de técnicos (mecânicos, ferramenteiros, moldadores, fundidores), o restante era constituído de carvoeiros, alimentadores de fornalha, fazendo serviços quase suicidas pelas bronquites, pneumonias, reumatismos que iam contraindo. Os menores, em que se contavam rapazinhos de oito anos, eram empregados em serviços pesados, alguns incompatíveis com sua idade e sua constituição física.

As forças conservadoras inquietavam-se com a agitação popular, principalmente com as rearticulações dos “tenentes” militares e civis. Percebendo que era preciso assumir a direção da conspiração para evitar que ela tomasse rumos considerados radicais, as oligarquias dissidentes aderiram ao movimento. “Façamos a revolução antes que o povo a faça” declarou o presidente mineiro Antônio Carlos Andrade.